05/01/2012
Na Bíblia do Novo Testamento, há duas versões do nascimento de Jesus.  Uma do evangelho de Lucas que culmina com a adoração dos pastores. A  outra, do evangelho de Mateus, que se concentra na adoração dos três  reis magos. A lição é: judeus e não-judeus (antigamente se dizia  pagãos), cada um a seu modo, tem acesso a Jesus e participam da alta  significação que ele encarna. Tentemos captar o sentido dos reis magos,  festa que as Igrejas celebram no dia 6 de Janeiro, hoje quase esquecida.
As Escrituras judaico-cristãs deixam claro que Deus não se revelou  apenas aos judeus. Antes de surgir o povo de Israel com Abraão,  revelou-se a Enoque, a Noé, a Melquisedeque, depois a Balaão e a um não  judeu, o rei Ciro a quem, pela primeira vez na Bíblia, se atribui o  título de Messias. E nunca deixou de se revelar aos seres humanos, de  muitas formas diferentes, pois todos são seus filhos e filhas e ouvintes  da Palavra. Os reis magos estão entre eles. Quem eram? Diz-se que eram  astrólogos vindos provavelmente da Babilônia. 
Naquele tempo astronomia e astrologia caminhavam juntas. Certo dia,  estes sábios descobriram uma estranha conjunção de Júpiter com Saturno  que se aproximaram de tal forma que pareciam uma única grande estrela,  na constelação de Peixes. O grande astrônomo Kepler (+1630) fez cálculos  astronômicos e mostrou  efetivamente que no ano 6 antes de Cristo (data  do nascimento de Cristo pelo calendário corrigido) ocorreu tal  conjunção. 
Para os sábios, este fato possuia grande signficação. Júpiter, na  leitura astronômica da época, era o símbolo do Senhor do mundo. Saturno  era a estrela do povo judeu. E a constelação de Peixes era o sinal do  fim dos tempos. Os sábios babilônicos assim interpretaram: no povo judeu  (Saturno) nascerá o Senhor do mundo (Júpiter) sinalizando o fim dos  tempos (Peixes). Então se puseram a caminho para prestar-lhe homenagem. 
Sempre houve na história dos povos, pessoas simples ou sábias que se  puseram a caminho em busca de salvação, quer dizer, de uma totalidade  integradora que superasse as rupturas da existência humana. Deus veio ao  encontro desta busca entrando nos modos de ser e de pensar das  respectivas pessoas. 
Mas por que foram encontrar  Jesus? Porque, segundo a compreensão dos   evangelistas, Jesus é um princípio de ordem e de criação de uma grande  síntese humana, divina e cósmica. Quando dão a ele o título de Cristo  (ungido em grego) querem expressar esta convicção. Cristo não é um nome  de pessoa, mas uma qualidade conferida a alguém  para cumprir uma missão  que, no caso, é concretizar uma síntese integradora (salvação).Jesus  operou tal síntese; por isso o chamaram de Cristo. Pessoa e missão se  identificaram de tal forma que Jesus Cristo se transformou num nome.  Mais  correto seria dizer, Jesus, o Cristo.  Esta síntese é buscada e  realizada em outras religiões e caminhos espirituais, embora sob outros  nomes: Sabedoria, Logos,  Iluminacão,  Buda, Tao, Shiva etc. Estes são  “ungidos e consagrados”(significado de Cristo) para serem um centro  atrator e unificador de tudo o que há no céu e na terra. Mudam os nomes,  mas o sentido é sempre o mesmo.
Nossa realidade, entretanto, é contraditória. É feita de elementos  sim-bólicos e dia-bólicos, de verdade e de falsidade, de luz e de  sombras. Como criar uma ordem superior que ultrapasse essas  contradições? Sentimos a urgência de um Centro ordenador e animador de  uma síntese pessoal, social e também cósmica.
Os evangelistas usaram o fenômeno astronômico do aparecimento de uma  estrela para apresentar Jesus como aquele Senhor do Universo que vem sob  a forma de uma frágil criança para unificar tudo. Essa Energia é divina  mas não é exclusiva de Jesus. Ela se expressa sob muitas formas  históricas e em muitas figuras religiosas, justas ou sábias e, no fundo,  em cada pessoa. Em Jesus, o Cristo, ganhou uma concretização tal que  mobilizou outras culturas com seus sábios vindos do Oriente, os Magos.
Todos os caminhos levam a Deus e Deus visita os seus em suas próprias  histórias. Todos estão em busca daquela Energia unificadora que se  esconde no signficado da palavra Cristo. Esse encontro com a Estrela que  guiou os magos, produz hoje, como produziu ontem, alegria e sentimento  de integração. 
Haverá sempre uma Estrela no caminho de quem busca. Importa, pois,  buscar com mente pura e sempre atenta aos sinais dos tempos como  o  fizeram  os reis magos.
Fonte: http://leonardoboff.wordpress.com/2012/01/05/em-busca-de-uma-sintese-integradora-os-tres-reis-magos/
 
 
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