segunda-feira, 25 de abril de 2011

"DOENÇA MENTAL" – DE QUEM É A CULPA?

POR LUCYNARA SANTOS
Desde a época da faculdade de Psicologia sempre ouvi falar que a situação da saúde mantal no Brasil e no mundo estava melhorando. Eu só não sabia que
esse "melhorando" estava tão distante daquilo que tenho testemunhado em minha prática profissional em pelo menos dois diferentes recantos do estados brasileiros da Paraiba e do Rio Grande do Norte. É lamentável saber que depois de tantas lutas teórico-conceituais e sociais em prol de uma brilhante Reforma Psiquiatrica, na prática (quase) nada de fato melhorou (...). Me pergunto se é suficiente produzir tantos  artigos sobre supostas teorias que até então, na maioria dos casos e contextos, em nada torna mais digno e eficaz o tratamento que se destina aos nossos antigos “doentes mentais”, antigos porque hoje em dia me parece que um dos poucos e maiores avanços na área foi simplesmente a substituição do termo “débio ou doente mental” para termos mais requintados como pessoas especiais, ou portador de doença mental ou ainda mais eufemico: “pessoas em estado de sofrimento mental”. Que diferença isso faz meu Deus, se na prática, grande parte dessas pessoas continuam sendo tratadas da mesma forma que a quase mil anos atrás – como pessoas que só precisam de Haldol, Fenergam, Amitriptilna, Diazepan, Sertralina, Fluoxetina e outras drogas assim… Será que não dá para enxergar a doença mental com a mesma atenção e respeito com que sempre costumamos enxergar as doenças cardíacas ou os cânceres da vida(…). De um ponto de vista geral e analógico, o que mais seria o transtorno mental se não um devastador câncer da alma humana? Até quando continuaremos nessa paranóia ridícula de continuar separando “as coisas do corpo” e “as coisas da mente”. Ambas não estariam definitivamente interligados? Queria muito não me espantar mais quando ainda hoje, um pequeno canto de unha (quase curado) chama mais a atenção de muitos profissionais da saúde do que uma pessoa que sofre de Esquizofrenia (...). Até quando seremos hipócritas ao defender uma falsa integralidade entre os serviços de “saúde do corpo”, com aqueles que se dizem respeito a saúde mental?  Mas atenção, o problema não é só destes serviços, dos médicos, psicólogos, não é do vizinho, ou dos políticos ou do famoso “sistema”, o problema é de todos nós que insistimos tanto em procurar culpados, que deixamos de fazer nossa pequena parte de cada dia. Chega de ignorar a doença mental, lembre-se que ela não escolhe cor, raça, credo ou condição social, ninguém é culpado pela doença mas sim pelo PRECONCEITO em relação a quem sofre com ela (…) Chega!!!

para referir:                                              .
SANTOS, Francisca Lucynara A.
"Doença mental" – de quem é a culpa? - in. Internet, disponível em http://psicologiamor.blogspot.com/, postado em Abril de 2011.



4 comentários:

  1. Lu gostei muito do seu texto, se sua preocupação e do que você já conseguiu enxergar até hoje! Beijoo grande, postei no meu blog! Mande o texto pro carta potiguar, acredito que eles publiquem, tá muito bom!!! ginetta

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  3. Olá,
    Compreendo e compartilho em parte da sua preocupação. Sou estudante de psicologia e há pelo menos três anos tenho contato direto com o campo da saúde mental, seja como pesquisadora, estagiária e militante da luta antimanicomial. Concordo com você de que a separação entre corpo e mente ainda é o que rege a atenção à saúde como um todo, e isso se reflete por exemplo na resistência de profissionais da atenção básica em atender pessoas portadoras de transtornos mentais, ainda que a demanda seja de "um corte no dedo".

    Entretanto, discordo quando se diz que essas pessoas são atendidas da mesma forma que há séculos atrás. É certo que ainda temos muito o que avançar e que de fato a integralidade ainda é um horizonte bem distante. Porém é possível visualizar uma mudança nesse tratamento, especialmente com a abertura dos serviços substitutivos aos hospitais psiquiátricos. Não digo que a existência desses serviços é a panacéia, bem pelo contrário - mas que as transformações existem, elas existem. Mesmo com toda falha de funcionamento desses serviços, basta visitar o João Machado e um CAPS para notar a diferença de perto. Ou pelo menos dar uma olhada no Relatório de Gestão do governo federal para ver dados estatísticos. Ou ler um monte de artigos que mostram experiências exitosas no campo. Acho que olhar atenciosamente para estas - ainda que poucas, se comparadas aos anos de torturas, preconceitos e enclausuramento - , nos anima muito mais a continuar tentando fazer a diferença acontecer. E ela acontece.

    O estigma é algo alastrado pela sociedade como um todo e acredito que a luta passa necessariamente pela descontrução de certas representações sociais, inclusive com o uso do termo "doença mental", empregado pela autora. Achei bastante infeliz o comentário de que a doença mental é um câncer da alma, pois carrega o fator negativo que serve de suporte às práticas tradicionais de tratamento, baseadas na busca pela cura. Acho que um dos grandes entraves (se não o maior deles atualmente) é a força que os movimentos contra-reformistas têm (encabeçados principalmente pela Sociedade Brasileira de Psiquiatria), especialmente nos meios de comunicação de massa - basta ver a abordagem dada ao caso do massacre do Realengo. A luta por formas dignas de tratamento dos loucos não se restringe ao fechamento de leitos em manicômios, mas tem como norte um a criação de um novo lugar social para a loucura. Essas tentativas podem ser observadas em iniciativas culturais pelo Brasil, como a Rádio Pinel, o coletivo Dasdoida, Tvs, bandas e etc, que podem ser conferidos pelo projeto Loucos pela Diversidade.

    Este mês (dia 18) é comemorado o Dia da Luta Antimanicomial, em que será realidados debates acerca dos avanços, retrocessos e desafios da reforma psiquiátrica. Gostaria de convidar todos para conhecer a discussão, pois como foi bem dito, é uma questãoque diz respeito a todos, pois todos estamos sujeitos a isso. Assim que sair a programação, faço questão de informá-la.

    Abraço,
    Kamila.

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  4. Gostaria de agradecer as contribuições da visitante Kamila, concordo com grande parte de seus contra-argumentos no que diz respeito aos avanços na luta antimanicomial.Sei exatamente como isso é vivido em um meio predominantemente acadêmico/epsitemológico, até porque o "isso" a que me refiro (sem qualquer pretensão de cunho reducionista - já que desejo ser eternamente uma simples estudiosa), é demasiadamente importante e complexo demais para se resumir a um pequeno desabafo escrito por alguém que assim como você Kamila,luta diariamente para tentar "garantir" um suporte minimamente necessário e digno, para o sujeito que não sofre """apenas""" pelo seu estado de saúde mental, mas principalmente e infelizmente, com a (ainda) atual fragilidade dos serviços de saúde e politicas sócio-assistênciais,é claro que existem excessões,pessoas e instituições que fazem diferença sim! O que me inquieta profundamente e me levou a escrever este texto-desabafo é simplesmente a triste realidade com a qual tenho me deparado ao trabalhar a pouco mais de dois anos, em pelo menos dois diferentes Estados brasileiros,onde os próprios serviços substitutivos por vezes, têm sido cenário de práticas no minimo ultrapassadas. Me dói muito testemulhar que esses espaços de cuidado por alguma razão, deixam de lado toda a filosofia da Reforma e assim acabam reproduzindo (novamente) o modelo hospitalocêntrico e biomédico. Talvez eu não tenha conseguido passar o real teor de minha mensagem (sentimento de indignação) mas ficarei muito feliz se a partir de agora eu tenha conseguido deixar um pouco mais claro que não se trata de uma opinião que visa generalizar, nem tampouco desestimular que todos nós cidadãos e profissionais da saúde (mental) continuemos a lutar por melhores formas de cuidado, novas representações sociais e quebra de paradigmas que possam reforçar esta luta(...)A expressão "doença mental" e "câncer da alma" nada mais é do que uma forma de escrever que pudesse de fato enfatizar ou chamar a atenção de todo mundo para juntar-se a mim e a você em defesa da real efetivação daquilo que brilhantemente propõe a Reforma Psiquiatrica. Sei que na prática nada acontece como se prevê, mas acredito que um bom começo para avançar em nossas conquistas é unir forças para continuar lutando por aquilo que acreditamos e AMAMOS... Grande abraço a todos

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